segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um cara numa tabacaria

Um cara estava sentado em frente a uma tabacaria pensando se comprava um isqueiro novo ou pedia sua namorada em casamento. Era uma decisão difícil, afinal um ZIPPO  fazia toda a diferença na vida desse rapaz. Ele tinha 26 nos, gostava de andar de skate mais não o fazia a anos. Praticava natação regularmente e gostava muito de beber. Em meio há tantos livros lidos e tantos filmes vistos ele percebeu que já não fazia sentido todo o esforço desnecessário para ser  feliz. Quando a vida queria lhe trazer a felicidade ela simplesmente a trazia. E a felicidade podia vir de eni maneiras, por diversos caminhos – geralmente os mais improváveis.                                                     Esse rapaz pensava que não tinha mais toda uma vida para ser vivida. Havia se passado 26 anos, 17 dias, 13 horas  e 9 segundos de sua vida e a cada minuto ele sabia que estava morrendo. Lentamente. Vivendo uma vida que o levaria a inevitável morte. Ele não tinha medo. Sabia que em algum momento de seus dias sua força interior não seria necessária para continuar. Até porque a escolha não era dele na maior parte do tempo. Pensou em sua namorada e em como ela o fazia feliz, mas também em como ela o sufocava metódicamente para que nada fugisse do controle. Ela não gostava de surpresas  e ele adorava surpreender, fazendo assim  de seus dias intermináveis maçantes e entorpecentes. Aquele rapaz havia tentado de tudo. Todas as maneiras possíveis para agradar alguém que nunca estava satisfeita . Mas talvez fosse ela a mulher de sua vida. Talvez fosse ela a futura mãe de seus filhos e essa idéia não o assustava mais. “ TODOS TEM DEFEITOS” pensou ele. Mas a grande questão era se ele conseguiria suportar esses defeitos durante toda uma vida, ou pelo menos a vida que lhe restava. Os pilares emocionais que controlavam seus momentos mais sensatos estavam abalados pelas constantes brigas e desapegos com as coisas que se perdiam com o tempo. A negligência havia firmado fortes raízes em sua alma e só de pensar que trabalharia em um escritório pelo resto de seus dias sentia seus batimentos cardíacos se acelerar , seu estômago embrulhar e seus joelhos tremerem. De dentro do bolso tirou uma caixa de MARLBORO, e novamente pensou se fumava um cigarro ou se jogava de uma ponte. “ME MATARIA DO MESMO JEITO, EU ACHO”. A questão a ser resolvida estava além de sua muralha de auto-controle. “O relógio é um objeto torturante: parece algemado ao tempo.” Ele adorava essa frase de Clarisse Linspector.
Percebeu que durante todo o tempo fazia a vontade somente de outras pessoas e se perguntou o por que, no entanto não achou nenhuma resposta. Ele caminhou até a tabacaria e deixou o vento levar embora de sua mente tudo o que se relacionava a Valéria, sua amada e odiosa namorada.
Ao entrar notou que haviam algumas bebidas, pediu uma dose de JACK DANIEL’S, a tomou em um gole e rapidamente pediu o mostruário de isqueiros. Olhou um por um. Entre uma dose e outra e se decidiu pelo último. Pensou “ POR QUE NÃO ? “ 
- Cara, eu quero esse.   
- Boa escolha. – disse o vendedor do outro lado do balcão. – Mais alguma coisa ?
- Sim.- respirou fundo e despejou – Quero esperança e alguém que tome minhas decisões por mim sem jamais me prejudicar. Quero que minha namorada nova não seja uma idiota controladora e que meu cachorro não lata tanto. Quero que o mundo nos presentei com um   artista tão bom quanto JIMMY HENDRIX... – olhou outra vez para o isqueiro, encarou o menino que tentava não mostrar a cara de assustado e disse – E quero tentar não me matar assim que sair desta loja. Bateu os dedos lentamente na mesa de vidro daquela loja na Califórnia e ouviu de longe o barulho do mar e sentiu o cheiro da madeira que o fazia sentir-se vivo.
- O senhor ainda vai levar o isqueiro ? – disse o garoto como se nada de estranho tivesse acontecido.
- Claro. – respondeu calmamente.
Pagou e antes que saísse foi surpreendido pela voz do garoto. – Você vai ficar bem cara. Pense bem: Do nada a vida pode te surpreender com uma garota nova que te ajude em suas decisões mais dificeis. Você pode comprar uma fucinheira para o seu cachorro até ele aprender a se controlar. E você está na Califórnia, qualquer coisa pode acontecer, talvez o novo JIMMY esteja tocando o seu primeiro acorde agora, talvez seja o seu primeiro filho. No entanto se você se matar ele não vai nascer e o mundo não vai me presentear com um artista tão bom quanto o HENDRIX.
Joe achou o garoto engraçado. Ele devia ter 17 anos e um tempão pela frente. As palavras que foram ditas pelo garoto o fez pensar.
Joe saiu da loja e a alguns quilometros dali ficou em frente a uma ponte, subiu nela e se preparou para pular.
E pulou.
Em sua mente toda sua vida foi vista e recapitulada e antes de chegar ao chão não se arrependeu nem por um segundo.
Então ouviu uma voz lhe dizer: - Cara , não vale apena fazer isso.
Era a voz mais linda e doce que ja havia escutado. Seu nome era Bella e aquele foi o primeiro problema dentre tantos outros que ela o ajudaria a resolver. Sua mente voltou a realidade e por aquele instante em especial ele agradeceu por não ter pulado.

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